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A Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça, fundada por D. Afonso Henriques no coração do imenso território da Estremadura, constituiu uma das mais importantes casas cistercienses da Península Ibérica e, sem dúvida, a mais plena de significado – político, económico e artístico – no território do emergente Reino de Portugal.
Importa, antes de mais, analisar o papel relevante de Bernardo de Claraval na Europa medieval do século XII, cuja acção terá sido essencial para a legitimação do novo Reino. Bernardo de Claraval foi o mentor de Inocêncio II, dos Templários, e o pregador da II Cruzada, tendo sido com o seu apoio que Inocêncio II triunfou sobre o seu rival, o anti-papa Anacleto II, prolongando depois a sua influência sobre a Cúria Romana com a eleição, em 1145, de Eugénio III, antigo monge cisterciense e seu discípulo.
Humilde e obstinado, esta figura primeira da Idade média, sempre recusou qualquer título superior ao de Abade, sendo no entanto protagonista incontornável política e religiosamente.
Reflexo desse facto, e claramente sintomático da importância do acto, terá sido a outorga por Afonso I de Portugal, então ainda não reconhecido por Roma como Rex, da Carta de Couto directamente a Bernardo de Claraval, selando com esse acto uma vontade de afirmação por parte de ambos os intervenientes: Afonso Henriques conquista para a sua causa a influência da mais importante personagem do seu tempo, contrariando assim o ascendente dos cluniacenses ligados a Leão e Castela entre os reinos peninsulares;
S. Bernardo e os cistercienses, tomam posse de um domínio sem igual, com uma dimensão e uma importância pouco comuns, determinante para a respectiva implementação na Península Ibérica.
Tais factos ajudam a explicar o carácter invulgar da Abadia de Santa Maria de Alcobaça, tanto na erudição do programa construtivo como na grandeza do seu templo, com 106 metros de comprimento, dimensão que a coloca em terceiro lugar entre as fundações cistercienses – logo após as de Vancelles e Pontigny – e que implica uma escala absolutamente única entre nós.
A ocupação deste território pelos monges brancos – o mais vasto domínio monástico em todo o Reino – tornava-se absolutamente vital para a estratégia de expansão para Sul, já que, tomada a linha do Tejo com as conquistas de Santarém e Lisboa, só um eficaz povoamento poderia induzir a desejada estabilidade numa zona onde os cistercienses cumpririam uma outra função: a de normalizar o rito cristão.
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